terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mesmo com o risco da própria vida…

Grupo de Escolta Tática Prisional da Penitenciária de Parnamirim
 Sempre visito blogs pareiros a procura de matérias interessantes para meus leitores e amigos e em um desses blogs encontrei essa matéria que me fez relembrar esse dia, que foi um pouco angustiante dentre vários em minha vida como PM. Dia esse que amigos me ligaram dizendo que estavam confrontando bandidos armados em um cidade e que esse bando havia levado três companheiros como reféns.
De imediato meu grupo e eu fomos a esta cidade para tentar de alguma forma, e não importava de que forma fosse, ajudarmos esses companheiros.

Durante o percurso que mesmo a 150km/h parecia não ter fim e como não tinhamos rádio, recebemos várias informações desencontradas. Uma delas, e a que nos deixou mais angustiados foi que um dos reféns talvez havéra sido morto, o que graças a Deus não foi verdade.

Bem, chegando lá com outros reforços que vinheram da capital e outras cidades, fiz a parte que me cabia no momento...
A matéria a seguir descreve bem tal fato, em tal dia e em tal lugar.

Por: Flávio Henrique em 23/08/2010

- Alô.

- Flávio!? Você está trabalhando hoje?

- Não, por quê?

- Graças a Deus! Teve um tiroteio na cidade, daqui dava pra ouvir os tiros. Parece que levaram os policiais como reféns. Ainda bem que você não está aqui…

- Como é!? Tiroteio!? Policial de refém!?

- É, meu filho, mas ainda bem que não foi com você.

Começo a ligar para meus colegas de serviço. A primeira chamada não é concluída, telefone desligado. 
Insisto, minha mãe percebe que fico preocupado e passa a prestar atenção. Ligo novamente, desligado. Ligo para outro colega. Ele me atende.

- Levaram Rênio*, Cromo* e o sargento Germânio*!

Era outro policial que também estava de folga, mas a par dos acontecimentos. Ligo para o tenente.

- Tenente, o que está acontecendo?

- Tentaram roubar o banco, levaram os policiais. indo pra lá agora.

- Eu vou também!

- Isso, vá.

Rapidamente me apronto e sigo para a cidade. Chegando no local, a cena era perturbadora. Várias marcas de tiros nas paredes e nos veículos, uma mancha de sangue no asfalto, um carro abandonado no meio da rua, muitos curiosos sem entender direito o que se passou e incontáveis policiais. Nessas horas que a gente percebe que, apesar de todas as dificuldades e reclamações no serviço, ainda somos unidos. Como dizem, “a família é grande”.

Informações desencontradas. Foi roubo? Resgate de preso? Tentativa de sequestro no fórum? Quantos bandidos? Recebo a notícia que meus companheiros estão bem, foram liberados quase ilesos depois que o helicóptero localizou a viatura roubada, o que permitiu a soltura dos policiais. Um sargento atingido na coxa, um soldado ferido por estilhaços no rosto e o outro soldado com problema de pressão. O alívio é imediato, mas ainda fica o desejo de responder à altura tamanho atrevimento. Já nos empenhamos quando não estamos diretamente envolvidos, imagine quando sentimos na pele a audácia dos marginais. Assim segue a “caçada”, diligências por toda a região, barreiras, buscas pelo canavial, o cerco se fecha. O primeiro bandido finalmente é preso.

Pela noite, consigo falar com o soldado que teve o rosto lesionado. Ele me conta os momentos de terror. Disse que os bandidos renderam um companheiro ainda na calçada e depois atiraram contra o prédio em que ele e o sargento se encontravam. Melhor armados e em maior número, os vagabundos intensificaram o ataque, que foi prontamente revidado pelos dois PMs acuados. Pelo rádio, ouviu-se o apelo desesperado por socorro:

- CIOSP! PRIORIDADE! #$&%!*@! CIOSP!

Em meios aos ruídos de interferência e aos barulhos dos disparos, os demais companheiros sabiam que alguém precisava de apoio, mas ainda não sabiam quem. Silêncio no rádio… O soldado efetua novos disparos e grita mais uma vez em seu HT.

- CIOSP! PRIORIDADE! PAPA MIKE*!

Finalmente o som pode ser entendido e rapidamente todas as viaturas que ouviram o pedido de apoio se dirigiram até o local solicitado. Apesar de irem o mais rápido possível, na maior parte arriscando as próprias vidas em um possível acidente, parece pouco. Não demorou 10 minutos para a chegada do reforço, mesmo assim, foi demais para quem está na iminência de morrer. São segundos preciosos. E tempo suficiente para acontecer algo ainda mais grave.

Percebendo que os policiais não iriam se render, eles utilizam o PM dominado como escudo e com uma pistola apontada para a cabeça dele, ameaçam matar o colega caso os demais não se entregassem. E agora? Qual a garantia que eles não o matarão mesmo depois da rendição? Qual a garantia de que eles não matarão todos? Nenhuma, mas era preciso arriscar. O marginal promete a integridade dos policiais. “Nós só vamos ‘fazer’ o banco”.

No entanto, eles não esperavam que houvesse mais dois agentes penitenciários a poucos metros dali. Os agentes realizavam a escolta de um detento para uma audiência no fórum da cidade. Quando ouviram os tiros, não tiveram dúvidas em agir contra os bandidos. Atordoados, a quadrilha desiste do roubo, agora só interessa fugir. Como garantia de fuga, levam os policiais algemados e na própria viatura. Até serem localizados pelo helicóptero, como dito pouco antes.

Na madrugada, mais dois presos. Restava a investigação para pegar os outros membros da quadrilha. Identificação dos bandidos, depoimentos, relembrar tudo. Não podia fazer muito, apenas prestar solidariedade e apoio no que meus colegas precisassem. O abalo emocional deles era evidente. Enfim, o dia acaba. Mais uma vez, voltam para casa salvos.

Meus colegas me perguntam por que insisto nessa profissão, já que eu tenho outras opções. Sinceramente, não sei. Pensamos que é melhor fugir dos problemas, sem qualquer reconhecimento, que não é inteligente nos arriscarmos desse jeito. Também temos famílias, filhos, mães, irmãos, esposas, namoradas que sofrem e se preocupam com a gente. Mesmo assim, gosto de ser policial. Tento fazer o meu melhor, não vou pedir para sair, quero acreditar que posso fazer diferença. Afinal, já ouvi dizer em algum lugar que quando os bons se omitem, o mal prevalece. É um sacrifício que estou disposto a fazer, foi um juramento que eu fiz.

Essa não é uma obra de ficção, embora nomes e lugares tenham sido alterados por questão de segurança.

* Nomes fictícios retirados da tabela periódica e localização adaptada pelo alfabeto fonético.

Fonte: DPM

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