quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Agente é feita refém em falha na Segurança Maxima

Mossoró mostra primeira falha em Presídios federais
Andrey Ricardo
Da Redação


Em quatro anos de existência, o Sistema Penitenciário Federal (SPF) enfrentou ontem sua primeira crise e o palco foi o Presídio Federal de Mossoró. Uma agente penitenciária federal foi feita refém por um preso de justiça, que conseguiu rendê-la e roubar sua arma. O preso fez uma série de exigências - algumas delas surreais -, mas as negociações só foram encerradas às 18h de ontem, quando a vítima foi libertada. Esse havia sido o primeiro incidente dessa natureza em uma das unidades de segurança máxima do SPF.

O preso que protagonizou o primeiro incidente do Sistema Penitenciário Federal é Leandro Felipe Leocádio, que é condenado por assalto em Areia Branca, onde pegou sete anos e quatro meses, e por furto em Macau, onde foi condenado a dois anos de prisão. Ele é interno do Complexo Penal Agrícola Doutor Mário Negócio, situado ao lado do Presídio Federal. Há poucos meses, Leandro começou a prestar serviços no Presídio Federal na área da limpeza - como forma de ressocialização, já que recentemente ele ganhou o direito de progressão de regime, passando do fechado ao semiaberto.

De acordo com o delegado federal Kércio Silva Pinto, diretor da unidade federal de Mossoró, a agente penitenciária - nome não informado - foi feita refém por volta das 10h de ontem, quando o preso, que tinha acesso "livre" à parte da frente da unidade - é a ala administrativa e atrás ficam as celas -, subiu a uma das guaritas. Ela foi pega de surpresa pelo preso, que a rendeu e roubou sua arma, uma pistola calibre P40. A partir de então, começou uma longa negociação. A princípio, as autoridades evitaram confirmar que havia uma agente refém e bloquearam a entrada de qualquer veículo na prisão.

Por volta das 13h de ontem, uma equipe de três agentes e um delegado da Polícia Federal de Brasília (DF), todos especialistas nesse tipo de situação, desembarcou no aeroporto Dix-sept Rosado. A partir daí, as negociações com o preso foram feitas com essa equipe, que assumiu o controle da situação. A equipe, segundo apurou o DE FATO, era composta por negociadores, mas também por atiradores de elite. De longe - a imprensa não teve acesso à entrada da prisão -, era possível observar que uma equipe ficou posicionada em cima da caixa d'água da prisão - provavelmente os atiradores.

A princípio, Felipe pediu a presença dos seus familiares e disse que só se renderia com a chegada deles. Por volta das 14h, uma equipe da Polícia Militar chegou ao Presídio Federal com o pai dele e mais dois familiares. Porém, o problema não foi resolvido porque ele fez uma nova exigência, essa ainda mais complicada: queria ver a filha que tem menos de dois anos e mora em Areia Branca com a mãe. "Olhe, os policiais até foram à casa dela, mas ela está irredutível e não vem de maneira alguma. E ele diz que só sai depois que ver a criança", esclareceu Carlos Santana, advogado do detento.

As negociações foram encerradas por volta das 18h de ontem, quando o interno resolveu se entregar e liberar a agente penitenciária federal. "Nós iniciamos com o delegado da Polícia Federal, que tem curso em gerenciamento de crimes. Ele veio nos ajudar e, aproximadamente das 12h até agora (19h), houve o desfecho e, graças a Deus, tudo ocorreu bem. Não atingiu a ala de segurança máxima - onde ficam os presos - da prisão", destacou Kércio, que até as 19h de ontem ainda não sabia qual o crime que seria imputado ao interno, que ainda prestaria depoimento aos policiais federais.
 
Comando da PF de Brasília desembarcando
Preso queria ver o mar

O surto que fez o preso Leandro Felipe Leocádio atacar uma agente penitenciária federal dentro de uma prisão de segurança máxima não foi nenhuma novidade para quem convivia com ele. É que ele já vinha apresentando problemas relacionados à depressão, desde quando a família deixou de visitá-lo na Mário Negócio, onde ele cumpria pena por furto e roubo - juntas, somam 10 anos. Entre suas reivindicações, uma delas era ser levado à praia de Canoa Quebrada, no Ceará.

É que quando ainda estava no regime fechado da Mário Negócio ele tentou se matar, segundo o tenente-coronel Alvibar Gomes, diretor do Complexo Penal Agrícola Doutor Mário Negócios. "Ele já vinha apresentando esses problemas, talvez pela abstinência das drogas, não sabemos ao certo", explicou o tenente-coronel, que está de licença médica, mas acompanhou à distância toda a negociação com o presidiário.

O preso, inclusive, estava sendo acompanhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Mossoró, ainda de acordo com o diretor da Mário Negócio. "Ele vinha fazendo esse tratamento e estava se recuperando. Não sei por que ele teve esse surto agora", destaca.

Porém, para o diretor do Presídio Federal, Kérsio Silva Pinto, não havia como prever que o preso iria ter esse tipo de problema. Em entrevista coletiva concedida na noite de ontem, o diretor minimizou o problema. "Foi um surto que deu nesse rapaz. Não é problema de droga, nada disso. É um problema familiar, envolvendo uma filha dele. Ele já não vinha bem e hoje fez isso para tentar trazer sua filha, que é menor de dois anos de idade. Nós tentamos convencê-lo do contrário e não houve agressão de nenhuma das partes", disse o delegado da Polícia Federal.

Para que qualquer preso tenha o direito de progredir de regime, é preciso que ele seja submetido a uma série de exames psicológicos, que poderiam ter detectado os problemas apresentados por ele ontem. Ao ser questionado sobre essa possível falha, Kércio também não quis entrar em detalhes. "Não vamos falar em falha. Temos que assumir que aconteceu um problema grave. Só isso", disse.

Além de pedir a presença dos familiares, que moram em Areia Branca e Macau, o detento foi mais além e pediu até para ser levado à praia. Segundo o seu advogado, Carlos Santana, ele teria pedido para ir comer um peixe em Canoa Quebra (CE) e disse ainda que depois disso cometeria o suicídio.

"Nem todas as exigências seriam aceitas. Coisas absurdas não podem ser atendidas - a vinda da criança", disse Kércio.

Diretor nega falha da agente

O primeiro incidente de natureza grave registrado em todo o Sistema Penitenciário Federal (SPF), que hoje funciona no Brasil com quatro prisões de segurança máxima - a quinta será construída em Brasília (DF) -, não foi considerado uma falha por parte da agente penitenciária feita refém. Essa foi a avaliação do diretor do Presídio Federal de Mossoró, delegado federal Kércio Silva Pinto, que amenizou o quadro.

"Não se trata de um descuido da agente. Ele vinha fazendo limpeza havia quase quatro meses, e nesse momento da limpeza... foi mesmo no momento em que ela estava focando outro ângulo. Então, ele veio a abordá-la, imobilizá-la e utilizou a arma dela", destacou Kércio Silva, negando que tenha havido algum tipo de deslize por parte da agente.

Ele negou ainda que o preso tivesse conseguido entrar com algum tipo de arma cortante, como estava sendo especulado durante as negociações. "Ele não tinha nenhuma outra arma. Ele a imobilizou manualmente. Não tinha nenhum tipo de arma branca porque ele é revistado todos os dias quando entra, mesmo na área administrativa", afirmou Kércio, que fez questão de frisar que o incidente não refletiu nenhum tipo de risco à ala dos presos.

Para amenizar a situação, Kércio explicou que a agente penitenciária teve papel de grande importância durante toda a negociação. Além de manter-se calma o tempo todo, ela ainda conversou bastante com o preso para tentar acalmá-lo. "Minha gente, eles - os agentes - são treinados para isso. Eles são extremamente preparados. Ela nos ajudou muito durante toda a negociação. Essa foi uma das peças mais importantes nesse incidente", explicou.

Por fim, o diretor nega qualquer possibilidade de haver punição contra a agente. "Qual punição? Não há punição para a agente. É a mesma coisa que vocês - jornalistas - estejam fazendo uma cobertura e sejam feitos vítimas. O nosso interesse é preservar a vida, preservar a vida da nossa agente, nesse caso", finaliza Kércio Silva.

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