terça-feira, 29 de junho de 2010

Matadores do bebê querem controlar o crime em Ponta Negra

O delegado titular da 15ª Delegacia de Polícia em Ponta Negra, Luiz Lucena, já identificou alguns dos responsáveis pelos vários tiros disparados na noite de sábado, na rua Morro do Careca, na Vila de Ponta Negra, zona Sul de Natal, e que resultaram na morte do bebê Rafael Alexandre e deixaram mais cinco pessoas feridas. A “tentativa de chacina” teria sido motivada, segundo Lucena, por uma rixa antiga e por uma disputa pelo comando do crime na área.



Adriano AbreuCinco pessoas ficaram feridas e um bebê de seis meses morreu após atentado na rua Morro do Careca, na Vila de Ponta NegraCinco pessoas ficaram feridas e um bebê de seis meses morreu após atentado na rua Morro do Careca, na Vila de Ponta Negra

Luiz Lucena diz que em virtude dos acusados terem “livrado” o  flagrante delito, vai pedir à Justiça, amanhã, a expedição de mandado de prisão preventivo contra o grupo,  que tinha intenção de matar um rapaz que não se encontrava no local do crime. 



“Temos a informação de que esse grupo teria ido até à festa matar um rapaz que estava lá e que tem uma rixa antiga com eles. Como não o encontraram, saíram atirando a esmo em quem estava na rua”, contou Lucena. Essa rixa seria motivada também pelo controle do crime no bairro. “Não está necessariamente ligada ao tráfico de drogas. São pessoas que querem se destacar no mundo do crime e cometem homicídios por vingança para acabar com os desafetos. Aqui em Ponta Negra está cheio de pessoas desse tipo. Agora, eles são bandidos chinfrins, que tiram a vida de alguém totalmente inocente e revoltam a Polícia e toda a sociedade”, afirmou.



Segundo o delegado Lucena, o homem que comandou a ação criminosa que resultou na morte do bebê e deixou outras cinco pessoas feridas já foi identificado, mas ainda não foi preso. “É um homem que já foi detido por tráfico de drogas, assalto e porte ilegal de arma de fogo. Não está preso porque a Polícia prende e a Justiça solta. É importante que se registre que temos um Código Penal muito permissivo. A pessoa é condenada a 12 anos, fica presa dois anos e já está livre para cometer novos crimes”, acusou o delegado. 



Lucena contou também que o “alvo” dos bandidos seria um jovem de 18 anos que já é responsável por três atos infracionais equivalentes a homicídios praticados quando ele ainda era menor de idade. “Por isso, não ficou preso. Ele nem estava cometendo mais crimes, segundo nos consta, e até o chamamos para prestar depoimento sobre um outro caso na sexta-feira. No entanto, continuava sendo perseguido por esse grupo rival pelo que já havia feito”, contou o delegado. 



O delegado preferiu não citar os nomes dos envolvidos que estão sendo investigados, mas segundo os moradores da rua Morro do Careca, os disparos teriam sido feitos por um homem identificado como “Pretinho” e que estaria em um carro com outras quatro pessoas. O nome do jovem procurado por eles seria conhecido apenas como Gilberto. “Vamos chamar esse jovem que seria o alvo para conversar. Assim como queremos ouvir também todas as pessoas que estavam no local. Queremos localizar e prender o responsável o quanto antes. Esse crime não pode ficar impune”, afirmou o delegado Lucena.  



Bandidos cumpriram promessa



Os bandidos que causaram a morte de Rafael Alexandre e feriram mais cinco pessoas estavam cumprindo o que havia sido prometido. Pelo menos, foi o que afirmou uma moradora da rua Morro do Careca e que esteve no sepultamento do bebê, na manhã de ontem, no cemitério de Ponta Negra. “O que a gente ouve de algumas pessoas que conheciam esse rapaz que eles foram matar é que já havia prometido que, se não o encontrassem, sairiam atirando em quem estivesse na rua. E foi assim que fizeram”, afirmou a moradora – que pediu para não ter o nome revelado. 



A promessa teria sido feita na troca de tiros ocorrida na festa de São João da Vila de Ponta Negra, na quarta-feira – na ocasião, ninguém ficou ferido. “Parece que o rapaz que eles iriam matar já estava sendo procurado desde esse dia. Houve uma confusão lá entre eles”, contou um morador. 



Na noite do sábado, os vizinhos da rua Morro do Careca se reuniram novamente para festejar o aniversário de um ano da filha de uma das moradoras do local. “Foram mais de 30 pessoas na festa, mas quando eles chegaram, quase todo mundo já havia ido embora. Era tarde e só restavam algumas pessoas do lado de fora da casa, esperando para ir embora”, contou um dos moradores que estavam na festa, mas que não foi ferido. 



Segundo os moradores, por volta das 22h30, um Gol - modelo novo, branco e com os faróis azuis, mas placas não anotadas – se aproximou da casa onde estava acontecendo a festa. “Eles perguntaram onde estava a pessoa que eles buscavam e, como responderam que ela já havia ido embora, baixaram o vidro do carro e começaram a atirar em todo mundo”, contou o morador.



Os disparos foram feitos com pistolas calibre 380 e 9 milímetros. “Existe a suspeita também de revólver calibre 38 ter sido usado”, contou o delegado Luiz Lucena, que começou ainda sábado a trabalhar na investigação do caso. “Os responsáveis pelo crime devem ser atuados por homicídio triplamente qualificado, lesão corporal grave, tentativa de homicídio e formação de quadrilha”, antecipou o delegado Lucena. 



Bebê é enterrado em Ponta Negra



O bebê Rafael Alexandre foi sepultado na manhã de ontem, no mesmo dia em que completaria sete meses de nascido, no cemitério de Ponta Negra, a alguns metros da 15ª Delegacia de Polícia local. “Está todo mundo com o filho nas mãos, quero o meu também. Por que o meu não está comigo?”, afirmou Alessandra do Nascimento Silva, 21 anos, mãe de Rafael na hora do enterro do filho. 



Alessandra não estava na festa na hora do homicídio do filho. Ela, que é mãe de outro menino, de cinco anos, trabalhava no momento em que o grupo chegou ao local e começou a atirar contra os moradores. “Meu filho estava nos braços de uma amiga minha, do lado de fora da casa, quando foi atingido no abdômen e não resistiu. Não quero acreditar que aquele no caixão é meu bebê”, contou, emocionada. 



A amiga de Alessandra é Katiane Salles Gomes, 15, e também foi atingida de raspão no abdômen. Ela recebeu atendimento médico e já foi liberada, assim como Ricardo da Silva Neto, 38 anos, atingido nas costas. “Queremos Justiça. Várias pessoas inocentes foram feridas. O responsável por isso tem que ser preso”, afirmou ele, que viu a mulher, Anira Lucas Cavalcante ser baleada nas duas pernas. “Deram quatro tiros nela, mas só dois acertaram”, contou. 



Anira Lucas é uma das que está em estado mais grave. Tanto, que nem participou do enterro do bebê Rafael. “Ela ainda anda com dificuldades”, contou Ricardo da Silva. Também com dificuldades para andar, está Darleiluana Nascimento, 19 anos, que foi atingida nas nádegas por dois tiros. “Ela nem na festa estava. Ia saindo de casa para ir visitar uma amiga quando viu os tiros, correu e tentou se esconder atrás de um poste, mas foi atingida. Ela já foi liberada pelo hospital, mas não passou por cirurgia. Os médicos disseram que se mexessem lá era capaz dela ficar sem andar”, afirmou Edilma do Nascimento, mãe de Darleiluana. 



Quem também corre risco de ficar sem andar, mas ainda está internada no Hospital Walfredo Gurgel é a adolescente Fabiola Figueiredo, 14 anos. A bala que a atingiu continua alojada nas costas, próximo à coluna.

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