domingo, 25 de outubro de 2009

Delegado revela a promotor que tem medo de apurar homicídios

Wendell Betoven acha que vários grupos de extermínio atuam na grande Natal. Inclusive, delegado da zona Norte relatou dificuldade em investigar crimes


As constantes execuções registradas na grande Natal nos últimos dias não são fatos isolados. Para a própria polícia, existem vários grupos de extermínio atuando na região. Na maioria das vezes, as brigas por pontos de droga ou a cobrança de dívidas também referentes às drogas estão tirando a vida de jovens. Em alguns casos, cogita-se a participação de policiais. Inclusive, um delegado da zona Norte chegou a confessar a um promotor que tem medo de investigar homicídios.

Só nesta semana, foram registrados pelo menos seis mortes com características de execução, como o caso do ex-policial militar Jefferson Lino de Souza, de 42 anos. Ele foi assassinado na quarta-feira (21), em uma borracharia no Cidade Verde. Segundo a polícia, Jefferson fez parte da quadrilha de Valdetário Carneiro e era envolvido com o tráfico de drogas.

Para o promotor criminal Wendell Betoven, a suspeita de participação de vários grupos de extermínio realmente existe. No entanto, ele ressaltou que ainda não pode comprovar isso, pois não existem investigações concretas por parte da polícia. "Pela repetição dos fatos, a gente desconfia. Mas, não passa de 'achologia'. Como promotor, tenho que trabalhar com provas, que vêm a partir de inquéritos e, infelizmente, eles não chegam aqui com informações suficientes, principalmente, os da zona Norte".

De lá, inclusive, vieram relatos que chamaram a atenção do promotor. Ele disse a reportagem do Nasemana que recentemente recebeu a visita de um delegado que denunciou: "Tenho 50 homicídios na delegacia e boa parte deles com envolvimento de PMs. Porém, tenho medo de investigar".

De acordo com o promotor Wendell Betoven, esse medo citado pelo delegado é proveniente da falta de estrutura do aparato policial. "Eles não recebem apoio da Polícia Civil e por isso temem em se aprofundar nesses casos. Infelizmente, a falta de estrutura impede o trabalho bem feito. Um homicídio, por exemplo, tem que ser apurado no calor dos fatos, que é quando as testemunhas falam e as provas ainda existem. Mas, o que vemos é a investigação começando três meses ou até seis meses depois", diz.



Nesta semana, durante uma entrevista coletiva na Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social, o titular da Divisão Especial de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor), Ronaldo Gomes, chegou a dizer que atualmente vários grupos de extermínio são investigados. "Essas mortes não estão relacionadas a um só grupo, são vários que atuam na grande Natal".

O delegado não falou em envolvimento de policiais. No entanto, ele citou a prisão na terça-feira (23) de um bando responsável por pelo menos sete homicídios. Luciano Costa da Silva, o "Negão"; Lindomar Silva do Nascimento, o "Liro"; Jeferson de Souza Almeida, o "Fefé"; Fagner de Souza, o "Fafá"; e Jacques Samuel de Lima foram presos depois da morte de Eliaquim Soares de Freitas, 20, o "Alecrim". O jovem tinha sido assassinado justamente por ser um informante da polícia sobre o tráfico de drogas, motivo pelo qual a quadrilha matava suas vitimas.

"Se não combater o tráfico, esse povo vai continuar se matando", alerta Wendell Betoven. O promotor citou também como exemplo as prisões realizadas na quarta-feira (21) dos soldados Wendel Fagner Cortez de Almeida e Marcelo Galdino Galvão, ambos da 1ª Companhia do 4º Batalhão da Polícia Militar.

A dupla era acusada de tortura e envolvimento com o tráfico. "Esses policiais chegaram a forjar flagrantes de apreensão de drogas. Com isso, eles perderam a total credibilidade. Todo mundo que foi condenado em processos que eles constavam como testemunhas vai recorrer e poderá ser inocentado, mesmo que, de fato, tenha cometido o crime".

Outro problema destacado pelo promotor Wendell Betoven que dificulta a ação de combate aos grupos de extermínio é o medo que as testemunhas sentem em relatar as ocorrências. "Apesar disso, nós destacamos que é mais seguro nos passar informação do que ficar no baú, como costumamos dizer". Ele explica que nos casos em que as pessoas passam informações e solicitam o programa de proteção a testemunha, passa a ter uma maior segurança.

Nesta semana, na segunda-feira (19), um triplo homicídio no Bom Pastor também chamou atenção pela forma como foi realizado. Oito homens encapuzados e fortemente armados invadiram a casa localizada na rua dos Paianases e executaram Wagner Ferreira de Oliveira, 16, Daniel Ferreira de Oliveira, 25, e Ilário Valério. Durante o crime, os homens chegaram a dizer que eram da polícia.

Em relação a esse caso, o Nasemana questionou ao comandante Geral da Polícia Militar, coronel Marcondes Pinheiro, sobre a possibilidade de envolvimento de PMs. "Eu não posso dizer que um policial cometeu um crime. É preciso investigar para depois afirmarmos alguma coisa".


Homicídios
Na próxima semana, a ouvidoria da Secretaria de Justiça e Cidadania fechará o relatório de homicídios do primeiro semestre em Natal. No entanto, os dados preliminares apontam crescimento, principalmente na zona Norte de Natal.

No bairro de Nossa Senhora da Apresentação, por exemplo, considerado um dos mais violentos da capital, até julho deste ano foram contabilizados 36 assassinatos. No ano passado inteiro, foram 40 homicídios.

Em Lagoa Azul, também na zona Norte, foram 40 homicídios em todo o ano de 2008 e 26 nos sete primeiros meses deste ano. Já no Pajuçara, até julho se contabilizou 18 assassinatos. Nos 12 meses de 2008, foram 31 homicídios.

Na zona Oeste de Natal, também se registra aumento. Em Felipe Camarão, em 2008, ocorreram 26 mortes violentas. Nos sete primeiros meses deste ano foram registrados 24 assassinatos.

Fonte Exclusiva: No minuto.com

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